Confessando e abandonando o pecado

 

2º TRIMESTRE 2024

A CARREIRA QUE NOS ESTÁ PROPOSTA

O caminho da salvação, santidade e perseverança para chegar ao céu

COMENTARISTA:  Pr. Osiel Gomes

LIÇÃO 08 – CONFESSANDO E ABANDONANDO O PECADO – (Sl 51.1-12; 1Jo 1.8-10)

INTRODUÇÃO

Nesta lição estudaremos sobre a confissão e o abandono do pecado; começaremos, então, abordando a definição de bíblica-teológica do pecado, veremos os passos que levam a queda, para isso analisaremos a transgressão cometida pelo rei Davi. Por fim, pontuaremos a confissão como uma condição para a restauração espiritual.

I  – DEFINIÇÃO DO TERMO PECADO

1.1 Definição exegética e bíblica. A palavra hebraica “hatah” e a grega “hamartia” originalmente significam: “errar o alvo, falhar no dever” (Rm 3.23). Existem outras várias designações bíblicas para o pecado, muito mais do que há para o bem. Cada palavra apresenta a sua contribuição para formar a descrição completa desta ação horrenda contra um Deus santo. Em um sentido básico pecado é: “a falta de conformidade com a lei moral de Deus, quer em ato, disposição ou estado” (Chaves, 2015, p. 128). Podemos afirmar ainda que: “O pecado é a transgressão da Lei de Deus” (1Jo 3.4).

1.2 Descrição bíblica de pecado. Pecado é a transgressão deliberada e consciente das leis estabelecidas por Deus. Transgressão “é o ato de transgredir” “violar” ou “infringir”. Transgredir é “a quebra de um dever e de uma ordem” (Rm 2.23). Por isso, a Bíblia diz que ao pecar, Eva caiu em transgressão (1Tm 2.14), o mesmo que ocorreu com Adão (Rm 5.14). O pecado é, de fato, uma ativa oposição a Deus, uma transgressão das suas leis, que o homem, por escolha própria, cometeu (Gn 3.1-6; Rm 1.18-32; 1Jo 3.4).

II  – O PECADO DE DAVI: PASSOS QUE LEVARAM À QUEDA

Davi estava vivendo um dos melhores momentos de sua vida e de seu reinado. Tinha um exército respeitado (2Sm 8,10); as fronteiras haviam sido ampliadas (2Sm 5.6-12); tinha uma linda casa nova (2Sm 5.11); e até planos para construir o templo do Senhor (2Sm 7). Porém, como acontece geralmente com todas as pessoas, a queda de Davi não foi repentina. Algumas brechas começaram a se abrir, em sua vida espiritual. Vejamos:

2.1 Ociosidade.  a Palavra de Deus nos diz: “E Aconteceu que, tendo decorrido um ano, no tempo em que os reis saem à guerra, enviou Davi a Joabe, e com ele os seus servos, e a todo o Israel; porém Davi ficou em Jerusalém”. Como o reinado estava consolidado, possivelmente Davi achou que não havia necessidade de ir à batalha com seu exército. Mas, o maior erro de Davi não foi ficar em Jerusalém; seu maior erro foi abrir a guarda da vigilância. Além de ficar no palácio, o rei foi passear no terraço da casa real (2Sm 11.1,2). As maiores tentações que o crente enfrenta, não são aquelas que lhe sobrevêm quando ele está à frente da peleja, e sim, quando está ocioso.

2.2 Cobiça. Enquanto passeava, Davi viu Bate-Seba que estava se banhando. Ao vê-la, Davi a cobiçou, pois era uma mulher muito formosa (2Sm 11.2,3). O pecado da cobiça leva o homem perder o domínio próprio e ficar sob o domínio da carne (Tg 1.14,15). Foi isto que aconteceu com Davi. Ele procurou saber quem era aquela mulher e lhe informaram que era a mulher de Urias, ou seja, era uma mulher casada, e não era lícito possuí-la. Mas ele não se conteve e mandou trazê-la.

2.3 Insensibilidade. Mesmo sabendo que aquela mulher era casada (2Sm 11.3), Davi a possuiu e adulterou com ela, sem pensar nas consequências do seu erro. Uma das estratégias de Satanás é cegar o homem para as consequências do pecado; Davi ficou “cego” e transgrediu o mandamento de Deus ao tomar a mulher de outro homem (Êx 20.14,17).

III  – A CONFISSÃO E ARREPENDIMENTO: UM PASSO PARA A RESTAURAÇÃO

3.1. A confissão e a sua importância para a restauração espiritual. A confissão é de suma importância para que haja mudança: “O que encobre as suas transgressões nunca prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia” (Pv 28.13). A Bíblia nos mostra que sem arrependimento não há remissão de pecados, portanto a confissão é a porta para o arrependimento e um passo essencial para a restauração: “E a descendência de Israel se apartou de todos os estrangeiros, e puseram-se em pé, e fizeram confissão pelos seus pecados e pelas iniquidades de seus pais” (Ne 9.2). A confissão e o arrependimento ajudam a curar a ferida. O arrependimento é uma mudança de mente e disposição para abandonar o pecado, envolvendo em senso de culpa e desamparo, apreensão da misericórdia de Deus, um forte desejo de escapar ou ser salvo do pecado, e abandono voluntário. A confissão de Davi é premiada como misericórdia. A Bíblia nos mostra o perdão pela confissão: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça” (1Jo 1.9). O apóstolo João trata a mentira e a sua progressão entre aqueles que tiveram um encontro com Jesus:

“Se dissermos que temos comunhão com ele, e andarmos em trevas, mentimos, e não praticamos a verdade” (1Jo 1.6) As pessoas que estão em nossa volta tem comunhão com Deus, mas a forma de viver não corresponde como as nossas palavras. Andamos em trevas, e isso não corresponde a praticar a mentira;

“Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós.” (1Jo 1.8). Após mentirmos as pessoas que nos cercam, estamos mentindo a nós mesmos;

“Se dissermos que não pecamos, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós” (1Jo 1.10). Quando tentamos mentir para Deus, fazemo-nos dele mentiroso, o qual testifica da pecaminosidade do homem (Mt 6.23b). Se nós erramos, precisamos do seu perdão para caminhar.

3.2 O arrependimento e a sua importância para a restauração espiritual. Como todos os homens pecaram e destituídos estão da glória de Deus (Rm 3.23), o arrependimento também é necessário a todos os homens. Jesus mesmo introduziu a mensagem do Reino, chamando as pessoas ao arrependimento (Mt 4.17; 9.13; Mc 2.17). Ele comissionou os apóstolos a pregarem esta mensagem (Lc 24.47). Confira também (Mc 6.12; At 2.38; 3.19; 8.22). Paulo disse que por meio do evangelho se “anuncia agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam” (At 17.30). O arrependimento é vital para que o ser humano possa obter a salvação (At 2.38; 3.19; 2Co 7.10). Jesus ensinou que, se não houver arrependimento o homem perecerá em seus pecados (Lc 13.3,5; Jo 8.14). “O verdadeiro arrependimento é o que produz convicção do pecado; contrição do pecado; confissão do pecado; abandono do pecado; e conversão do pecado” (Gilberto, 2008, p. 358).

IV  – O ABANDONO DO PECADO: A GARANTIA DA RESTAURAÇÃO

4.1 A atitude de Davi. Enquanto o monarca não agiu corretamente em reconhecer sua falha, estava na seguinte condição: “Enquanto eu me calei, envelheceram os meus ossos pelo meu bramido em todo o dia. Porque de dia e de noite a tua mão pesava sobre mim; o meu humor se tornou em sequidão de estio” (Sl 32.2,3). Mas ao reconhecer e buscar ao Senhor, Deus respondeu à sua petição: “Confessei-te o meu pecado e a minha maldade não encobri; dizia eu: Confessarei ao SENHOR as minhas transgressões; e tu perdoaste a maldade do meu pecado” (Sl 32.5). Voltava à paz com seu Pai celestial. Embora Davi merecesse claramente a pena de morte (Lv 20.10; 24.17), o Senhor perdoou-o por ter demonstrado arrependimento e remorso. Até mesmo no Antigo Testamento podemos ver a graça de Deus resplandecer no relacionamento dos seus filhos (Jr 18.8) Essa experiência de Davi com o Senhor ressalta a graça divina como nenhuma outra passagem veterotestamentária. Os erros de Davi sempre se relacionam com a falha em não consultar a vontade de Deus; em vez disso, sua restauração estava sempre ligada ao ato de renovar a comunicação com Deus (Sl 55.4).

CONCLUSÃO

Aprendemos nesta lição a importância da restauração espiritual de Davi. Ele reconheceu o seu erro e pediu a misericórdia de Deus sobre a sua vida. “Esconde a tua face dos meus pecados, e apaga todas as minhas iniquidades. Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto. Não me lances fora da tua presença, e não retires de mim o teu Espírito Santo. Torna a dar-me a alegria da tua salvação, e sustém-me com um espírito voluntário” (Sl 51.9-12).  Em nossos dias os servos de Deus precisam reconhecer os seus erros e ter um melhor relacionamento com Deus, assim obedecendo os seus estatutos e aguardando a sua Palavra. “Escondi a tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra ti” (Sl 119.11).

REFERÊNCIAS

  • ANDRADE, Claudionor de. Dicionário Teológico. CPAD.
  • CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. HAGNOS.
  • CHAVES, Gilmar, Vieira. Temas Centrais da Fé Cristã. CENTRAL GOSPEL.
  • GEISLER, Norman. Teologia Sistemática. CPAD.
  • STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.

Fonte: portal rbc1/lições

A responsabilidade é individual

4º TRIMESTRE 2022

A JUSTIÇA DIVINA

A preparação do povo de Deus para os últimos dias no livro de Ezequiel

COMENTARISTA:  Pr. Ezequias Soares

LIÇÃO 07 – A RESPONSABILIDADE É INDIVIDUAL – (Ez 18.20-28)

INTRODUÇÃO

Nesta lição, veremos uma breve definição do termo responsabilidade, que é uma palavra-chave, para a compressão do assunto aqui tratado; destacaremos também, a condição da nação de Israel, nesse ponto do livro do profeta Ezequiel; ressaltaremos os principais aspectos da mensagem de Deus através do profeta; e, por fim, elencaremos quais as atitudes que Deus esperava de seu povo, e que servem de referência para os nossos dias.

I – DEFINIÇÃO DO TERMO RESPONSABILIDADE

1.1 Definição do termo. A palavra responsabilidade procede do latim: “respondere”, literalmente: “responder”. Usada como um termo moral, significa que: “o indivíduo dever responder ou reagir diante de certos deveres, a fim de ajustar-se a algum padrão moral e espiritual ”. A responsabilidade pessoal, é o estado de quem sente que precisa prestar contas de seus atos; de quem sente que precisa cumprir com as suas obrigações; de quem sente que precisa atender a reivindicações legítimas (CHAMPLIN, 2004, p. 672).

II – A CONDIÇÃO DA NAÇÃO DE JUDÁ

2.1 Condição histórica. O capítulo 18 do livro de Ezequiel, combate uma argumentação da nação de Israel que se sentia desobrigada de responsabilidade moral pelo juízo divino. Em forma de um provérbio, do hebraico “mashal”, ou seja, “um adágio, poema, parábola, discurso”; o povo dizia: “[…] os pais comeram uvas verdes, e os dentes de seus filhos se embotaram?” (Ez 18.2). Afirmando com isso, que a punição de Deus era injusta e que eles estavam sendo penalizados pelos pecados de seus antepassados (Ez 18.25,29).

2.2 Condição espiritual. Os profetas Jeremias e Ezequiel trouxeram à nação de Judá uma mensagem de Juízo e conclamação ao Entretanto, a nação com dura cerviz, culpava seus antepassados pelo juízo. Com essa atitude eles demonstravam três grandes problemas:

2.2.1 Insensibilidade ao seu estado de pecado. A nação não se sentia culpada. A indiferença e a insensibilidade sempre serão frutos de uma vida sem comunhão com Deus: “[…] porquanto todos se apartaram de mim para seguirem os seus ídolos” (Ez 5-b).

2.2.2 Transferência de culpa aos familiares. Nos dias de Ezequiel, os israelitas estavam usando o provérbio para justificar-se e para culpar seus pais pelo infortúnio nacional. A propósito, transferência de culpa foi o primeiro fato evidente no ato da queda (Gn 12,13). Nunca devemos culpar os outros por nossas más atitudes, mas devemos reconhecer nossas falhas, nos arrependermos e confessarmos as nossas faltas, buscando o perdão divino: “O que encobre as suas transgressões nunca prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia” (Pv 28.13).

2.2.3. Atribuição de injustiça a Deus. Não bastasse a insensibilidade de reconhecer seus pecados, Israel atribuía culpa ao próprio Deus pelos seus métodos e castigos: “E, no entanto, o povo de Israel continua a dizer: ‘O Senhor não é justo!Ó povo de Israel, vocês é que são injustos, e não eu! (Ez 18.29 – NVT). Em uma outra versão encontramos a seguinte expressão: “Apesar disso ser uma coisa tão clara, os israelitas continuam reclamando: O Senhor está sendo injusto no seu julgamento! Israelitas, vocês são os injustos, e não Eu” (Ez 18.29 – VIVA). Há pessoas que buscam sempre culpar a Deus ou mesmo o diabo pelos problemas de suas vidas, esquecendo-se que em muitos casos, os problemas são frutos dos próprios erros: “De que se queixa, pois, o homem vivente? Queixe-se cada um dos seus pecados” (Lm 3.39).

III – A MENSAGEM DE DEUS ATRAVÉS DO PROFETA EZEQUIEL

3.1 Todos são iguais perante Deus: “[…] a alma que pecar, essa morrerá” (Ez. 18.4-b). O profeta mostra que Deus não faz acepção de pessoas; antes, deseja que todos se arrependam e vivam. Deus não tem filhos prediletos e nem netos, Ele deseja que todos os seus filhos reproduzam o seu caráter no dia a dia (Mt 5.13,16; 1Pd 1.15).

3.2 Nosso relacionamento com Deus envolve compromisso moral (Ez 18.5). Como filhos, devemos reproduzir o caráter de Deus:

  • “[…] não comendo sobre os montes […]” (Ez 18.6-a). Não oferece sacrifícios e nem come das oferendas a outros supostos deuses, pois ele pertence ao Deus Verdadeiro e Santo (1Co 10.25-30; Rm. 12.1,2);
  • “[…] nem levantando os olhos para os ídolos da casa de Israel […]” (Ez 18.6-b). Ele não cultua, adora, venera ou deseja nenhum ídolo (tudo aquilo que substitui a Deus em nossas vidas). Pois só o Senhor ama e adora (Dt 6.5; Mt 22.37; Mc 30; Lc 10.27);
  • “[…] nem se contaminando com a mulher de seu próximo […]” (Ez 18.6-c). Seu corpo é templo do Espírito Santo, logo, não há espaço para prostituição, fornicação, adultério e toda sorte de práticas imorais (Rm 6.11 -16; 1Co 6.13-20; Gl 5.19-21);
  • “[…] não oprimindo a ninguém, tornando ao devedor o seu penhor, não roubando, dando o seu pão ao faminto, cobrindo ao nu com sua veste […]” (Ez 18.7). O que vive em santidade não se isola do mundo, ele vive no mundo demonstrando no seu testemunho pessoal seu compromisso com Deus no seu relacionamento com a sociedade (Mt 13,16; 1Pd 1.15; Tg 1.22-25);
  • “[…] Ele não empresta visando lucro e nem cobra juros […]” (Ez 18.8 – NVI). O justo não pede dinheiro a agiota e nem prática agiotagem (Ez 18.8; Êx 22.25; Lv 25.37; Dt 22.15);
  • “[…] andando nos meus estatutos e guardando os meus juízos […]” (Ez 18.9). O justo tem seu prazer na lei do Senhor (Sl 1; 119), e por isso, santidade é sua prioridade de vida;
  • “[…] para proceder segundo a verdade […]” (Ez 18.5). O filho de Deus não se deixa levar por falsos avivamentos, shows gospels, ou qualquer outra inovação; sua vida é regulada pela Palavra de Deus (Sl 119.9,11).

3.3 Deus exige de cada um de seus filhos uma vida de santidade. O capítulo 18 de Ezequiel mostra-nos que o justo, deve ter uma vida de excelência moral, uma vida de santidade (Ez 18.5-9), fato, aliás, que já estava previsto no Código de Santidade de Deus para os seus servos (Lv 17-26), e que marca o estilo de vida dos autênticos servos de Deus (Mt 5.20), e que querem ver ao Senhor (Hb 12.14).

3.4 Cada um responderá por seus atos diante de Deus. O que Ezequiel diz é que, mesmo que os filhos possam sofrer por causa dos pecados dos seus pais em uma ordem natural de causa e efeito, Deus não vai castigar um filho pelos pecados de seu pai e também não considerará justo o filho injusto porque seu pai foi justo. O profeta deixa claro que a “teologia da transferência de culpa” não resistirá ao juízo de Deus (Ez. 18.29,30). Pois cada um responderá por seus atos diante de Deus, sejam bons ou maus (Rm 14.10-12; 1Co. 4.4,5; Ap 20.11-15); nada fugirá de seu juízo (Hb 4.12,13).

3.5 A possiblidade real da perda da salvação. Deus deixa claro por meio do profeta Ezequiel, da possibilidade de o justo perder a sua comunhão com o Senhor ao perguntar: “[…] desviando-se o justo da sua justiça, e cometendo a iniquidade, e fazendo conforme todas as abominações que faz o ímpio, porventura viverá? (Ez 18.24), a resposta obviamente é: não! Essa pessoa realmente foi justa e realmente caiu da graça. Se ela não voltar para Deus, mas morrer em seu estado caído, sofrerá a ira santa de Deus: “Desviando-se o justo da sua justiça e cometendo iniquidade, morrerá por ela; na sua iniquidade que cometeu, morrerá” (Ez 18.26). A ideia, difundida pelos calvinistas, que um cristão não pode cair da graça e perder-se, vai contra o ensino desse texto. É difícil entender como alguém pode conciliar a teologia de “uma vez na salvo, sempre salvo” com o claro ensino bíblico dessa passagem e em toda a Escritura.

IV – UM CHAMADO PARA A RESTAURAÇÃO

Ante a situação espiritual, moral e social que vivia a nação de Israel, o profeta traz ainda uma palavra de esperança, compartilhando um chamado de Deus. Notemos:

4.1 Um chamado ao arrependimento: “[…] arrependam-se!” (Ez. 18.30b – NVI). Não há outro caminho para a santidade, a não ser por meio do arrependimento (Ez 14.6; 33.11; Jr. 25.5; 35.15).

4.2 Um chamado à santidade: “Desviem-se de todos os seus males” (Ez. 18.30b – NVI). O desejo de Deus é que os homens busquem a santidade e uma comunhão com Ele (Ez 7.19; 14.3,4,7).

4.3 Um chamado à mudança: “[…]e busquem um coração novo e um espírito novo” (Ez 18.31 – NVI). Ninguém que queira se relacionar com Deus, pode continuar do mesmo jeito (Ez 11.19,20; 36.26,27; 2Co 5.17).

4.4 Um chamado à vida: “[…] arrependam-se e vivam” (Ez 18.32-b – NVI). Deus não tem prazer na morte do ímpio. E por isso chama todos ao arrependimento para que vivam (Ez 33.11); e tenham uma vida maiúscula: “[…] eu vim para que tenham vida e a tenham com abundância” (Jo 10.10).

CONCLUSÃO

Apesar da mensagem de juízo pela dureza do coração do povo e as claras consequências pela responsabilidade de cada um; Deus demonstra seu grande amor ao trazer também neste capítulo, uma palavra de esperança, arrependimento e vida, evidenciando que não tem prazer na morte do pecador.

REFERÊNCIAS

  • Comentário Beacon: Isaías a Daniel. Vol. 4. CPAD.
  • Lição do Simpósio de Doutrinas Bíblicas 2014. IEADPE.
  • STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
  • CHAMPLIN, R. Norman. Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. HAGNOS.

Fonte: portalrbc1.

Quando se vai a Glória

4º TRIMESTRE 2022

A JUSTIÇA DIVINA

A preparação do povo de Deus para os últimos dias no livro de Ezequiel

COMENTARISTA:  Pr. Ezequias Soares

LIÇÃO 4 – QUANDO SE VAI A GLÓRIA DE DEUS – (Ez 9.3; 10.4,18,19; 11.22-25)

INTRODUÇÃO

Nesta lição veremos uma definição exegética do termo glória; pontuaremos o que causou o afastamento da glória de Deus; estudaremos o histórico do afastamento da glória de Deus e a consequente destruição do templo; analisaremos a restauração do templo e o retorno da glória de Deus; e por fim, elencaremos a santidade como um veículo da glória de Deus na vida do crente.

I- DEFINIÇÃO DO TERMO GLÓRIA NAS ESCRITURAS

1.1 Definição exegética do termo glória. O vocábulo mais comum para glória é “kavôd” que significa: “glória, peso, esplendor, copiosidade, majestade, riqueza” dando a ideia de alguma coisa muito importante (Ez 1.28). A glória de Deus é a revelação de Seu próprio ser, da natureza e da Sua presença para a humanidade e leva o homem a reconhecer a grandeza de Deus e a sua pequenez e indignidade (Is 42.8; 48.9-11; 60.2). Na Bíblia, a glória de Deus está muitas vezes associada a: “brilho, esplendor e a majestade do Todo-Poderoso” (Ez 1.28; Lc 2.9; Mt 17.5). Ela descreve a presença visível de Deus como uma nuvem escura, trovões, relâmpagos (Êx 19.9,16,18; 20.18). A manifestação física de que a presença de Deus estava chegando (a glória de Deus) poderia ser a aparência de um fogo consumidor (Êx 24.17; Dt 4.24; Hb 12.29), no caso de Sua autoridade e Seu poder serem vistos. Em outros casos, quando Seu propósito era outro e Ele desejava mostrar outro aspecto do Seu caráter, ao invés de fogo (Êx 13.21; Nm 9.15-16) aparecia nuvem, fumaça, vento ou, então, o cicio suave (BÍBLIA DE ESTUDO PALAVRAS CHAVES, 2011, p. 1700).

II – O QUE CAUSOU O AFASTAMENTO DA GLÓRIA DE DEUS?

Para entendermos as consequências; “perca da glória de Deus”, precisamos antes analisar as causas que levaram a perca dela, podemos afirmar que foram “cinco princípios quebrados” que levaram a glória a se retirar, e consequentemente a ruína espiritual do templo e sua destruição:

  • A quebra do princípio da confiança e dependência em Deus (Ez 7.19). Israel foi colocado na terra de Deus, para depender Dele, porém ao longo dos anos passou a confiar em si mesmo (Jr 17.5) e em suas alianças políticas (2Rs 16.7-9) neste caso com a Assíria e Egito.
  • A quebra do princípio do zelo (Ez 7.9; 9.6). Israel precisava manter um padrão de excelência em relação a sua vida, mas preferiu beber em fontes rachadas (Jr 2.13), por onde entrava tudo. Isso fala da falta de zelo, de cuidado, de aceitação de padrões distintos.
  • A quebra do princípio da justiça (Ez 9.4-10). Um Deus justo e Santo não pode aceitar que seu povo cometa injustiça, e Israel como as demais nações estavam vivendo de uma forma tão terrível que a justiça não era algo real, e Deus precisava intervir (Hc 1.3-4).
  • A quebra do princípio do conhecimento da palavra (Ez 11.12). Conhecer a Deus, esse deve ser o objetivo de todos nós, porém ao longo dos séculos Israel se afastou da Palavra, houve grande apostasia ao ponto de o povo perderem sua Bíblia (2Rs 8), toda destruição inicia-se com a perca da Bíblia, por isso Oseias disse que o povo foi destruído por falta de conhecimento: “Uma vez que vocês rejeitaram o conhecimento, eu também os rejeito como meus sacerdotes; uma vez que vocês ignoraram a lei do seu Deus, eu também ignorarei seus filhos” (Os 4.6 versão NVI).
  • A quebra do princípio da adoração (Ez 11.19-21). Adoração é rendição, prostar-se, reverenciar. E Israel passou a fazer tudo isso, mas não para Deus, mas para os ídolos. Havia altares para baal, azera e até mesmo para moloque. Para entender melhor o tema é necessário rever o conceito de idolatria: “O que é o ídolo? Qualquer coisa mais importante que Deus para você, que domine seu coração e sua imaginação mais do que Deus. Qualquer coisa que você busque a fim de receber o que só Deus pode dar” (KELLER, 2021, p. 20). E a consequência de todo idolatra é a insensibilidade espiritual (Sl 115.8).

III – ETAPAS DO AFASTAMENTO DA GLÓRIA DE DEUS E A DESTRUIÇÃO DO TEMPLO

Ezequiel viu a glória de Deus ir embora aos poucos (Ez. 10.18; 11.22-25), ela saiu dos Santos dos Santos, para a porta, da porta para o pátio, depois para os montes, e por fim, tornou ao trono. Vejamos detalhadamente esta cena dolorosa que levou a ruína do templo.

3.1 A glória de Deus saiu do lugar santíssimo para a porta (Ez 10.4). Os líderes deveriam ser os primeiros a perceber que a glória não estava mais no templo, mas estes, também estavam distantes de Deus e envolvidos em idolatria (Ez 8.5-12), sua insensibilidade espiritual não os permitiu perceber que Deus estava indo embora, da mesma forma que Sansão não percebeu (Jz 16.20).

3.2 A glória de Deus saiu da porta para o pátio (Ez 10.18). O povo que ficava no pátio também não percebeu que a glória estava indo embora, a idolatria tem esse poder, esfriar e destruir. A Bíblia já alertava: “Tornem-se semelhantes a eles os que os fazem e todos os que neles confiam” (Sl 115.8). Essa é a dura realidade, muitos incessíveis a presença de Deus hoje.

3.3 A glória de Deus saiu do pátio e foi para os montes (Ez 11.23). Na visão, a glória não se movimenta pelo recinto, mas o Ela para sobre os querubins e as rodas e os acompanha até a entrada do portão leste do templo (v. 19). E é o terceiro estágio da retirada da glória de Deus que se completará no capítulo 11 com o final da visão (SOARES, 2022 p. 56).

3.4 A glória de Deus saiu e veio a destruição (Ez 12.10-16). Ezequiel, e não o remanescente do povo em Judá, vê a destruição do templo. Imaginemos a reação dos exilados ao ouvir sobre o que era esperado acontecer em Jerusalém por meio dessa linguagem simbólica. O templo de Salomão foi destruído pelos caldeus em 587 a.C., “no mês quarto, aos nove do mês” (2Rs 3-10; Jr 39.2; 52.6) […]. O cerco de Jerusalém durou dezessete meses, os muros foram violados em 9 de Tamuz, que é o quarto mês. A violação do muro é relembrada com um dia de jejum no 17 de Tamuz. A diferença das datas se dá pelo fato de os babilônios terem demorado para passar pelas brechas do muro e entrar em Jerusalém. O templo, os palácios e grande parte da cidade foram incendiados em 7 de Av, que é o quinto mês, em 586 a.C., correspondente a 16 de agosto. O Talmud explica que no dia 7 os babilônios ganharam acesso à cidade e só no dia 9 a incendiaram (SOARES, 2022 p. 59).

IV – A RESTAURAÇÃO DO TEMPLO E O RETORNO DA GLÓRIA DE DEUS

4.1 A glória do Senhor retornaria para o templo (Ez 43.1-5). Após o retorno do cativeiro babilônico, os judeus tinham uma importantíssima tarefa: reconstruir o Templo e restaurar o culto ao Senhor. Mas, além das dificuldades, a obra foi embargada por determinação do rei Artaxerxes, da Pérsia, por causa de uma denúncia acusatória dos vizinhos e inimigos do povo judeu (Ed 8,9; 4.7,8,17-24). Por causa disso, a obra arrastou-se, o povo perdeu ânimo e tornou-se egoísta cuidando apenas de suas moradias (Ag 1.4).

4.2 A glória retornaria com a mensagem do profeta Ageu. Enquanto o povo edificava, novo desânimo apoderou-se deles, foi nesta ocasião que Deus levantou o profeta Ageu (Ag 2.1-9). Os mais velhos, lembrando-se do esplendor do Templo de Salomão, mostravam-se decepcionados com o novo Templo, pois era inferior no tamanho e na suntuosidade da alvenaria. Os próprios alicerces eram bem menores em extensão e os recursos eram muito limitados. Mas Ageu veio com uma palavra de ânimo, dizendo que Deus derramaria seus recursos naquele edifício e estaria no meio do novo templo: “E encherei de glória esta casa, diz o Senhor dos Exércitos” (Ag 2.7). O profeta afirmou que: “A glória desta última casa será maior do que a da primeira, diz o Senhor dos Exércitos; e neste lugar darei a paz, diz o Senhor dos Exércitos” (Ag 2.9).

V – A SANTIDADE COMO UM MEIO DA GLÓRIA DE DEUS NA VIDA DO CRENTE

A Bíblia mostra claramente a necessidade de vivermos uma vida santa por meio de várias exortações (Rm 13.13,14; Ef 4.17-24; Fp 4.8,9; Cl 3.5-10). A responsabilidade do crente quanto à santificação, é destacada pelo escritor aos Hebreus (Hb 12.14-a) (CHAMPLIN, 2002, p. 647). Sobretudo, a necessidade de uma vida santa é vista ao afirmar que: “[…] sem a santificação ninguém verá ao Senhor” (Hb 12.14-b). A vontade de Deus tem sido sempre de que seus filhos reflitam seu caráter (Tt 2.14). A palavra “santo” tem os seguintes sentidos. Notemos:

5.1 Santidade é uma ordem divina. Sendo Deus Santo exige dos seus filhos a santificação (Lv 11.44; Lv 19.1,2; Lv 20.6; 1Pd 16). Santidade significa ser semelhante a Deus, ser dedicado a Deus e viver para agradar a Deus (Rm 12. Ef 1.4; 2.10). A perfeita obra de Deus realiza uma santidade real que conforma ao padrão de Deus (Rm 8.3-4; 1Pd 1.15-16).

5.2 Santidade é separação. A palavra descritiva da natureza divina é santidade, e seu significado primordial é “separação” (Lv 24,26; Is 52.11; Ml 3.18); portanto, a santidade representa aquilo que está em Deus, que o torna separado de tudo quanto seja imundo ou pecaminoso. Quando Ele deseja usar uma pessoa ou um objeto para seu serviço, ele separa essa pessoa ou objeto e em virtude dessa separação tomam-se “santo” (2Co 6.14,15; 2Tm 2.21).

5.3 Santidade é consagração. No sentido de viver uma vida santa e justa, em conformidade com a palavra de Deus e dedicada ao serviço divino; o cristão passa a viver em busca da remoção de qualquer impureza que impossibilite esse serviço. Entendemos então que o padrão de vida de um povo que busca a santificação é viver uma vida de consagração (2Co 6.16-b). A santificação é praticada e aplicada ao viver diário do crente (Pv 4.18; 2Co 3.18; 7.1; 2Pd 3.18), é a santificação vivencial (2Co 7.1; Hb 12.14).

5.4 Santidade é purificação. Embora o sentimento primordial de “santo” seja separação para serviço, inclui também a ideia de purificação. O caráter de Deus age sobre tudo que lhe é consagrado. Portanto, os homens consagrados a ele participam de Sua As coisas que lhe são dedicadas devem ser puras (2Co 7.1), pois a pureza é uma condição de santidade (1Jo 3.3).

REFERÊNCIAS

  • CHAMPLIN, R. N. Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia. HAGNOS.
  • ELISSEN, Stanley. Conheça melhor o Antigo Testamento. VIDA.
  • KELLER, Timothy. Deuses Falsos. Vida Nova
  • SOARES, Esequias. A Justiça Divina. CPAD
  • STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.

Fonte: portalrbc1.

As consequências do pecado de Davi

4º TRIMESTRE 2019

O GOVERNO DIVINO EM MÃOS HUMANAS

Liderança do povo de Deus em 1º e 2º Samuel

COMENTARISTA:  Osiel Gomes

LIÇÃO 11 – AS CONSEQUÊNCIAS DO PECADO DE DAVI  – (2 Sm 12.1-15)

 INTRODUÇÃO

Nesta lição veremos as etapas do pecado de Davi; pontuaremos as sérias consequências de suas falhas, tanto em sua vida como na sua família; e por fim, notaremos quais as fases para consumação do pecado na vida do homem.

I – ETAPAS DO PECADO DE DAVI

A palavra “pecado” significa: “desobediência a qualquer norma ou preceito” (HOUAISS, 2001, p. 2160). Pode ser definido como: “transgressão deliberada e consciente das leis estabelecidas por Deus” (ANDRADE, 2006, p. 295). A palavra hebraica “hatah” e a grega “hamartia” significam: “errar o alvo, falhar no dever” (Rm 3.23). Em um sentido básico pecado é: “a falta de conformidade com a lei moral de Deus, quer em ato, disposição ou estado” (CHAMPLIN, 2015, p. 128). De acordo com a Bíblia, o pecado é algo gradual (Tg 1.14,15). Notemos as etapas do pecado de Davi:

1.1 A traição. Davi estava no auge do seu reinado quando tragicamente caiu em pecado, vencido pela sua própria paixão desenfreada: “Então enviou Davi mensageiros, e mandou trazê-la; e ela veio, e ele se deitou com ela […]” (2Sm 11.4). Depois de ter consumado o seu ato pecaminoso (2Sm 11.1-4), Davi, de várias maneiras e durante um bom tempo, tentou ocultá-lo (2Sm 11.8,12). As tentativas foram cada vez mais pecaminosas. Isso sempre acontece com quem tenta esconder seu pecado. A Bíblia diz que “um abismo chama outro abismo” (Sl 42.7; Nm 32.23).

1.2 A mentira. Primeiro Davi ordenou que Urias viesse da guerra para dar-lhe notícias dela: “Vindo, pois, Urias a ele, perguntou Davi como passava Joabe, e como estava o povo, e como ia a guerra”, em seguida, ofereceu-lhe um presente e deu-lhe licença para ir a sua própria casa (2Sm 11.6-8), mas, infelizmente, tudo era mentira, engano e logro. O mal não reconhece limites em suas ações, enquanto que o bem atua dentro de limites traçados pela ética e infelizmente Davi esqueceu desta verdade.

1.3 A maldade. Davi insistiu que Urias permanecesse em casa afim de forjar uma situação e livrar-se de seu pecado. Em noutras palavras reincidiu no mal: “[…] Não vens tu de uma jornada? Por que não descestes à tua casa?” (2Sm 11.10). O pecado traz dois resultados: separa o homem de Deus e produz maus efeitos no mundo (Is 59.1; Rm 8.19-22). O primeiro pode ser cancelado pelo perdão, mas o segundo permanece. Alguém já disse que: “Deus não permite que seus filhos pequem com sucesso”. As consequências do pecado trazem consigo tristeza amarga e profunda (Rm 2.6-11).

1.4 A astúcia. Davi ofereceu um banquete a Urias com vinho embriagante com o intuito de enganá-lo: “E Davi, o convidou, e comeu e bebeu diante dele, e o embebedou […]” (2Sm 11.13). Davi só não contava com a lealdade e a sensatez de Urias (2Sm 11.11). Quando o crente procede dessa forma, o julgamento divino o aguarda, pois: “O Senhor não tem o culpado por inocente” (Na 1.3), e “Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará” (Gl 6.7,8). Lembremo-nos da admoestação de Paulo: “Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia” (1Co 10.12).

1.5 A covardia. Davi enviou uma carta real ao comandante Joabe, através de Urias, onde estava contida a sentença de morte do próprio portador (2Sm 11.14,15; 12.9). Um assassinato covarde de um leal soldado, planejado pelo próprio rei da nação (2Sm 11.16,17). Como Urias era um servo fiel, não violou a carta, pois, se o tivesse feito, veria que estava levando a própria sentença de morte. Davi quebrou o sexto mandamento: “Não matarás” (Êx 20.13); o sétimo mandamento: “Não adulterarás” (Êx 20.14); e o décimo mandamento: “Não cobiçarás” (Êx 20.17).

1.6 A Insensibilidade. Mesmo sabendo da morte de Urias, seu fiel soldado, Davi friamente mandou dizer a Joabe: “Não te pareça mal aos teus olhos; pois a espada tanto consome este como aquele” (2Sm 11.25). Davi tomou Bate-Seba como sua esposa e se portou tranquilamente como se nada houvera acontecido por cerca de quase um ano (2Sm 12.14,15) com sua consciência cauterizada sem confessar seu pecado e se arrepender dele (2Sm 12.27 ver ainda 1Tm 4.2).

1.7 A falsa “justiça”. Quando Davi achava que, morto o esposo da mulher com quem adulterara, o seu problema estava resolvido, Deus envia o profeta Natã para confrontá-lo (2Sm 12.1-25). É comum alguém que pecou e não tratou de forma devida o seu pecado projetar um sentimento de “justiça” e uma falsa santidade perante os outros (2Sm 12.5,6). Geralmente ele exige dos outros aquilo que ele mesmo não fez e cobra santidade, requer compromisso, exige dedicação, no entanto, nega com a sua prática a eficácia desses valores (Mt 7.3-5; 23.13-33). É comum desculparmos em nós mesmos aquilo que com veemência condenamos nos outros. Há situação em que o estado de cauterização da consciência é tão grande que somente um encontro com Deus é capaz de fazer cair as escamas dos olhos e expor as misérias humanas.

II – CONSEQUÊNCIAS DO PECADO DE DAVI

Consequência é “algo produzido por uma causa ou conjunto de condições; efeito, resultado, ferimento, sequela, inferência, ilação” (HOUAISS, 2001, p. 807). O pecado, uma vez consumado, deixa suas consequências deletérias, ainda que seja perdoado por Deus (Lm 3.39). O pecado de Davi trouxe consequências, algumas imediatas, e outras, a longo prazo: “Agora, portanto, a espada jamais se apartará da tua casa […]” (2Sm 12.10). Deus perdoou seu servo e lhe preservou a vida. Porém, ele pagou um alto preço pelo seu erro. Uma lição deste episódio é a imparcialidade da justiça divina, bem como as riquezas de sua misericórdia. Vejamos algumas consequências dos pecados de Davi:

2.1 Consequências emocionais. Os especialistas advertem que há muitas doenças psicossomáticas, isto é, doenças da alma ou de origem psicológica que afetam diretamente o corpo (Sl 32.2-5; 39.10,11; 51.8). Os resultados do pecado de Davi podem ser vistos primeiramente em sua vida sentimental e emocional: “Já estou cansado do meu gemido; toda noite faço nadar a minha cama; molho o meu leito com as minhas lágrimas” (Sl 6.6). O pecado causou feridas profundas na alma de Davi e alguns de seus salmos retratam seus infortúnios (13.2; 22.11; 25.16-18,22; 38.2-3; 41.4,8). A idade em que morreu cerca de setenta anos (2Sm 5.4; 1Rs 2.10,11) debilitado como estava, talvez tenha muito a ver com as angústias e frustrações de sua alma (1Rs 1.1).

2.2 Consequências espirituais. Não há dúvida de que os efeitos do pecado de Davi também estão na esfera espiritual: “Não me lances fora da tua presença, e não retires de mim o teu Espírito Santo. Torna a dar-me a alegria da salvação […]” (Sl 51.11,12). A Bíblia nos mostra que há também doenças de origem espiritual: “Depois Jesus encontro-o no templo, e disse-lhe: Eis que já estás curado; não peques mais, para que não te suceda alguma coisa pior” (Jo 5.14). Paulo adverte em sua primeira carta aos coríntios: “Por causa disso [do pecado], há entre vós muitos fracos e doentes e muitos que morrem” (1Co 11.30). Tiago aconselha: “Confessai as vossas culpas uns aos outros e orai uns pelos outros, para que sareis […]” (Tg 5.16). Davi pôs em prática isso e clamou ao Senhor: “[…] Tem piedade de mim; sara a minha alma, porque pequei contra ti” (Sl 41.4).

2.3 Consequências físicas. O pecado também trás consequências no corpo do pecador (Sl 38.3-9). Tanto Davi como Bate-Seba estavam cientes das implicações de seu erro (Lv 20.10). Após pecar Davi ouviu um dos mais duros julgamentos pronunciados pelo profeta Natã (2Sm 12.10-14). O julgamento atingia não somente sua vida física, mas também incluiria seu reino e sua família (2Sm 12.18). A sentença que Davi pronunciou tinha base na Lei (Êx 22.1), e isso mesmo ele experimentou na pele, pois ele sentenciou que o homem da parábola, que tomou a ovelha do outro deveria pagar quatro vezes mais: “[…] tornará a dar o quadruplicado, porque fez tal coisa […]” (2Sm 12.6). Davi tirou a vida de Urias, e pagou quatro vezes mais por isso: (1) O filho que nascera daquele adultério morreu (2Sm 12.14); (2) Amnom foi assassinado por Absalão (2Sm 13.28,29); (3) Absalão foi morto por ter-se rebelado contra o pai (2Sm 18.9-17); e por fim, (4) Adonias também foi morto à espada (1Rs 2.24,25).

2.4 Consequências interpessoais. Os efeitos danosos do pecado levam sofrimentos tanto ao que pecou como a muitas outras pessoas inocentes, e as vezes termina desfazendo grandes amizades. Bate-Seba a mulher de Urias era filha de Eliã e neta de Aitofel, e ambos estes homens faziam parte dos “valentes de Davi”, os súditos leais do rei. No livro de 2 Samuel, capítulo 23, a partir do versículo 24, começa a listagem dos grandes guerreiros de Davi, e ali três nomes se destacam: Eliã, Aitofel e Urias (2Sm 23.34,39). Aitofel, avô de Bate-Seba, era o grande conselheiro de Davi que, mais tarde, como num ato de vingança, aconselhou Absalão a possuir as mulheres do rei publicamente (2Sm 16.20-23). Os laços de amizade e lealdade deveriam ter servido de freio ao desejo insano do rei, porém isso não aconteceu infelizmente.

III – FASES PARA CONSUMAÇÃO DO PECADO

3.1 A atração: “[…] e viu do terraço a uma mulher que estava se banhando” (2Sm 11.2). O primeiro passo para o pecado é a atração: “Mas cada um é tentado, quando atraído” (Tg 1.14-a). A palavra “atração” significa: “sedução, sentimento de interesse, curiosidade” (HOUAISS, 2001, p. 338). Isto significa dizer que jamais seremos tentados por aquilo que não nos sentimos atraídos (Gn 25.29,30,34; 39.7-9; Jz 14.1,3). A Bíblia nos exorta a resistir aos desejos carnais “deixando-os” (Hb 12.1); “negando-os” (Mt 16.24); “mortificando-os” (Cl 3.5); e, se preciso for, “fugindo” deles (2Tm 2.22).

3.2 O engodo: “E mandou Davi perguntar quem era aquela mulher […]” (2Sm 11.3). A segunda coisa destacada pelo apóstolo Tiago é o engodo (Tg 1.14-b). A expressão “engodo” quer dizer: “isca usada para atrair animais; chamariz” (HOUAISS, 2001, p. 1149). O simbolismo, talvez seja o da pesca (CHAMPLIN, 2004, p. 23). Da mesma forma, o homem é atraído por algo que desperta a sua concupiscência. O diabo é especialista em colocar a isca (Gn 3.6; 9.20,21; 2Sm 11.2; Mt 26.15; Jo 12.6; At 4.35-37; 5.1-10; 2Tm 4.10).

3.3 A concepção: “[…] e mandou trazê-la […]” (2Sm 11.4-b). A terceira fase é a concepção (Tg 1.15-a). Esta fase é bastante perigosa, pois aproxima o homem da queda que é o próximo passo. O verbo “conceber” quer dizer: “ser fecundado por, engravidar, gerar, acalentar” (HOUAISS, 2001, p. 1149). Todos somos tentados diariamente por coisas que se colocam na nossa frente. Diante disto, podemos renunciar ou permitir que este desejo seja alimentado em nosso interior. Devemos com a ajuda da graça (2Tm 2.1) e do poder de Deus (Ef 6.10), resistir aos apelos dos nossos maiores inimigos: a carne (Rm 7.18), o mundo (1Jo 2.15) e o diabo (Tg 4.7).

3.4 A consumação: “[…] e se deitou com ela […]” (2Sm 11.4-c). O verbo “consumar” quer dizer: “levar a termo; concluir, rematar; cometer, praticar” (HOUAISS, 2001, p. 815). O resultado da consumação do pecado é a morte: “[…] o pecado, sendo consumado, gera a morte” (Tg 1.15-b). Foi o que foi dito ao primeiro casal (Gn 2.17), e o que eles receberam pela desobediência (Rm 5.12; 6.23). Essa morte é essencialmente espiritual, mas pode também ser física (At 5.5,10; 1Co 11.30) e eterna (1Co 6.10; Gl 5.19-21; Ap 22.15), senão houver arrependimento sincero e abandono do pecado (Pv 28.13).

CONCLUSÃO

A maneira correta de lidarmos com nosso pecado é nos arrependermos dele e, com toda a sinceridade, buscarmos em Deus o perdão, a graça e a misericórdia (Sl 51; Hb 4.16; 7.25), e nos dispormos a aceitar, sem amargura nem rebelião, a disciplina divina pelo nosso pecado. Davi tanto reconheceu quanto confessou seus pecados, voltou-se para o Senhor, e aceitou a repreensão com humildade (Sl 12.9-13,20; 16.5-12; 24.10-25; Sl 51).

REFERÊNCIAS

  • ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico. CPAD.
  • CHAMPLIN, R. N. Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia. HAGNOS.
  • HOUAISS, Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa. OBJETIVA.
  • STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.

Fonte: www.redebrasil.com.br